Pular para o conteúdo principal

Financiamento Coletivo Livro de Contos Réquiem Para Um Amor

One Piece - Resumo, crítica e análise de todas as temporadas [em ordem cronológica - em construção]

 Eu assumi comigo esse desafio insano e vou cumprir pouco a pouco. Conforme eu for relembrando as sagas pelo anime, visto que já comecei a ler tem mais de oito anos, vou atualizando aqui esse raciocínio. 

Para não enrolar muito algo que já vai ficar imenso, vamos lá.

Resumo de One Piece

Luffy D. Monkey é um jovem que aspira ser o Rei dos Piratas e para isso sai para os mares em busca do grande tesouro deixado pela lenda suprema da pirataria Roger D. Gol. Luffy comeu a Gomu Gomu no Mi, a fruta do diabo que o transformou em um homem borracha incapaz de nadar. Tendo nada além de um sonho e a capacidade de esticar o próprio corpo em várias formas, o jovem sai pelos mares atrás do One Piece - o tesouro de Roger que irá coroar quem o encontrar como o próximo Rei dos Piratas.

No geral, a história vai por aí: pirata que estica roda pelos mares. Vamos agora aos detalhes e minúcias. 

Crítica da Saga East Blue

East Blue é a primeira saga de One Piece e trata, em termos narrativos, da formação inicial do bando dos Mugiwaras (os chapéu-de-palha, em japonês, já que esse é o nome pelo qual Luffy passa a ser conhecido como capitão). 

Em tom, East Blue é um protótipo de One Piece. Dá para ver como Oda (desenhista e roteirista da história) já experimentava com alguns conceitos e explorava o universo da série, plantando sementes que só viriam germinar centenas de capítulos depois. Esse é, inclusive, o arco que será adaptado pela Netflix para a série live-action com previsão para 2023 (se não me falha a memória). 

East Blue começa com Luffy salvando o jovem Koby da pirata Alvida. Koby tinha o sonho de entrar para a Marinha, mas caiu por acidente no navio da pirata e foi obrigado a permanecer como serviçal. Depois de tirar Koby desse apuro, Luffy vai com o jovem até uma cidade onde ele poderá se alistar para servir ao Governo Mundial nos mares.

É na cidade de alistamento que Luffy conhece Zoro, o caçador de piratas, um espadachim que, para resumir essa crítica, decide fazer parte do bando após algumas desventuras.

Em seguida, Luffy e Zoro partem para o mar outra vez, encontram-se com a gatuna e navegadora Nami, que aceita fazer parte do bando por algum tempo. O trio, a partir daí, vai parar em uma vila onde conhecem o mentiroso Ussop, que sonha em se tornar um bravo guerreiro do mar, partindo para várias aventuras. Usopp se une ao bando e eles partem. 

Por fim, encontram o cozinheiro Sanji em um restaurante flutuante e o levam após algumas brigas no mar com o pirata dito o mais forte do mundo (naquele momento) e com um dos 7 corsários do mar, Mihalk (que dá uma lição de humildade no Zoro e o deixa sem espadas e quase sem vida). 

Unidos, os cinco piratas partem para mais uma aventura. Isso tudo ocorre em 30 episódios. Até aqui, One Piece é aventuresco e divertido, quase uma série infantil. É a partir desse momento, na saga do East Blue, que as coisas aceleram. A segunda metade da série é dedicada a contar o passado da Nami, personagem mais misteriosa do grupo até então. 

Descobre-se que a mulher trabalhava para um pirata homem-peixe como navegadora e devia a ele lealdade, visto que o pirata ameaçava a vila dela como forma de mantê-la trabalhando. Nami tinha um acordo com o pirata Arlong (o homem-peixe) que se ela pagasse determinado valor, a vila estaria livre. Não querendo perder as habilidades da mulher, Arlong a trai e faz com que Nami perca o dinheiro. Até esse momento, da traição dela (que sai da tripulação de Luffy com todas as posses do bando) à chegada na vila, descoberta do passado, apresentação dos personagens etc. o capitão dos Chapéu-de-Palha não se pronuncia nem se movimenta.

Enquanto Zoro, Usopp e Sanji ficam pensando no que fazer e rodam a ilha atrás de informações, Luffy literalmente deita e dorme para esperar que Nami se pronuncie. Esse é um dos aspectos mais interessantes do personagem. Caso eu não esteja enganado, em mais de 1000 capítulos, nunca foi mostrado um balão de pensamento sequer do Luffy - você entende o personagem apenas através das ações dele. E o Luffy, apesar de ter os traquejos tradicionais de um protagonista de shonen (coragem, ser barulhento, confiança etc.) é também paciente com as pessoas ao redor. Ele se mostra extremamente capaz de entender as emoções e intenções das pessoas ao seu redor e dá espaço para que se expressem de maneira sincera. 

Isso é um contraponto muito interessante com Naruto por exemplo, em que o ninja sempre dobra a vontade dos outros à sua com discursos motivacionais e histórias tristes. Não que esse seja um modelo errado, são duas formas distintas de se criar um vínculo. Em Naruto, o Kishimoto usa do discurso como forma de criar uma ponte entre os personagens, mas o protagonista é agente ativo nessa transformação. Já em One Piece, o Oda faz com que o Luffy dê o espaço necessário para seus colegas e amigos confiarem nele seus sonhos e desejos. 

Então, quando Nami ver seu dinheiro ser roubado por um oficial corrupto da marinha comprado por Arlong e percebe que ficará presa ao homem-peixe para sempre, ela finalmente pede ajuda ao seu verdadeiro capitão. E é nesse momento que o Luffy quebra o pau. 

No geral, East Blue é uma saga longa para apresentar todos os Mugiwaras, mas One Piece é um anime longo, então, na proporção, essa introdução não corresponde a um grande volume percentual de capítulos. Ainda assim, para tudo que a série apresenta, East Blue é um dos arcos que menos gosto. Então vamos ao próximo.

Crítica da Saga de Alabasta

Talvez, para quem ler aqui, eu já seja descreditado como um comentarista confiável sobre One Piece. Alabasta é a saga favorita (ou uma das favoritas) de muitos, mas eu não gosto tanto da história. 

Na crítica do East Blue, eu foquei muito nos personagens, mas isso tem uma justificativa plausível: o Oda criou mais gente que é possível dar conta em um resumo tão curto quanto esse. Era necessário focar nos elementos centrais da história. 

Toda vez que um novo Chapéu-de-Palha surgir eu vou ressaltar sua participação na narrativa, então vamos começar pela estrutura de Alabasta. 

O arco do East Blue acaba em Loguetown, cidade onde Gol D. Roger nasce e é posteriormente executado (após encontrar o One Piece). É na praça de Loguetown que Roger declara para o mundo onde está seu tesouro e com isso dá início à Grande Era dos Piratas. 

Daí para frente, o bando entra na Grand Line, um mar em linha reta que pela lógica de One Piece faz sentido e que é onde está o grande tesouro de Roger. 

Após algumas primeiras aventuras, o bando de Luffy chega a uma ilha de inverno procurando por um médico, visto que Nami adoece logo que entra na Grand Line. A tripulação então descobre que estão numa ilha onde todos os médicos que não trabalhavam para o rei foram banidos, e que o rei em si, após um problema com piratas, estava desaparecido. Por conta disso, não existem médicos na ilha, exceto uma doutora excêntrica e seu ajudante monstruoso. Conhecemos então a dra. Kureha e Tony Tony Chopper, uma rena que comeu a Hito Hito no Mi, a fruta do diabo com poder de um humano. Basicamente, a desculpa para o Oda antropomorfizar uma rena e transformá-la no mascote fofo e adorável do grupo. 

O flashback do Chopper é triste e mostra novamente a capacidade do autor de criar momentos dramáticos intensos na narrativa. Chopper vive isolado tanto de humanos quanto de animais, e não confiava em ninguém além do dr. Hiruluk, um velho maluco e sonhador que tentava ajudar a vila com uma medicina nada confiável. Hiruluk tratava Chopper como filho e ensina a pequena rena a sonhar. Eu falo dele no passado porque é óbvio que Hiruluk morre - foi a primeira vez que chorei vendo One Piece. Ele é dono de uma das frases mais marcantes da série também, e mostra um dos valores fundamentais da narrativa - os personagens. 

Nessa etapa da narrativa já está presente inclusive uma personagem muito importante para a saga de Alabasta, a princesa Vivi, disfarçada até então de agente da Baroque Works, um grupo criminoso comandado em segredo por um dos 7 Corsários do Mar: Crocodile. 

Adiantando alguns elementos: vamos para Alabasta, descobrimos que o país está prestes a entrar em uma guerra civil, visto que o rei foi incriminado pelo uso de uma substância ilegal que altera a chuva no país, Crocodile comanda tudo por trás dos panos e está prestes a assumir como comandante geral do reino quando chega Luffy com sua tripulação. 

Por mais que não goste muito, Alabasta tem sim seus méritos. É uma saga em que aprendemos que o Luffy pode perder (e perde duas vezes) e que a tripulação precisará lutar com seriedade (tirando o Usopp) para vencer uma batalha contra inimigos poderosos. Há pela primeira vez o choque dos sonhos dos Chapéu-de-Palha com o grande mundo da Grand Line (perdão pela repetição) e com pessoas poderosas. Luffy enfrenta Crocodile, cujo objetivo principal é poder e riquezas. Zoro enfrenta um homem duro como aço e precisa aprender a cortá-lo. Nami luta pela primeira vez e tem que se defender sozinha. Usopp e Chopper se unem para derrotar inimigos, mesmo sem confiança. E o Sanji enfrenta um dos grandes personagens de One Piece.

Eu preciso dedicar um parágrafo especial para Bon-Clay. Na Baroque Works, todos os agentes funcionam em par. Há um agente homem com um número e uma agente mulher com um nome de dia da semana. Luffy enfrenta Crocodile, o nº 0, Zoro enfrenta o nº1 e Sanji enfrenta o nº2: mr. Bon Clay. Bon-chan, para os íntimos, é um homem com tutu e dois cisnes nas costas (além de ser uma referência ao Jim Carrey em Ace Ventura quando ele entra no hospital psiquiátrico). O agente é a representação da androginia e da não-binaridade, sendo o único a não ter um par feminino, visto que ele já sintetiza em si tanto o homem quanto a mulher. Além disso, Bon-clay é o desafio de Sanji, o cozinheiro dos Mugiwara cujo grande traço de personalidade é se declarar incessantemente para todas as mulheres graças a uma noção deturpada (e misógina) de cavalheirismo. Esse choque físico entre Sanji e Bon-Clay é também um choque de ideias (que posteriormente é ampliado na narrativa) e ressalta uma das maravilhas de One Piece - mais uma vez -: a diversidade de pessoas, histórias e lugares (são três coisas, mas o tópico principal é a diversidade). <mantendo o parágrafo gigante para deixar apenas um dedicado ao Bon Clay> E aqui eu não falo de diversidade como uma pauta progressista de inclusão de diferentes segmentos da nossa sociedade do mundo real pouco visto nas mídias e no entretenimento. Essa discussão até cabe muito em One Piece por diversos motivos, mas a diversidade a qual me refiro aqui, neste momento, é a de diferentes designs, ideias e referências expostas. Com um mundo povoado por ilhas, Oda pode aproveitar esse argumento geográfico para inventar mundos próprios e isolados sem afetar o cerne da narrativa, alterando até mesmo o tom da história sem comprometer a busca pelo One Piece. No meio de toda essa loucura de reinos, piratas e da marinha, personagens como Bon-Clay se destacam de maneira incrível. 

Mas voltando a Alabasta. Rola a briga, o Crocodile tem uma bomba nuclear escondida no centro da cidade para causar mais confusões. O par de Crocodile, a agende All-Sunday, Nico Robin, vai junto do corsário atrás de um Poneglifo, um registro do século perdido do mundo de One Piece que dizem esconder segredos de grandes armas e de um povo apagado da história (ainda vou falar sobre esse aspecto da narrativa). 

Luffy briga com Crocodile pela terceira vez, finalmente vence e resgate o rei de Alabasta e Nico Robin das ruínas em queda. Alabasta é salva, os Mugiwara são heróis ainda que sejam piratas e tudo parece acabar bem. Partindo do reino em fuga da marinha (contando a ajuda de Bon-Chan, que vira amigo dos Mugiwara no começo da saga e agora retorna, após o embate com Sanji, ao lado dos piratas), Luffy e a tripulação descobrem que Nico Robin estava escondida no barco deles. O capitão aceita a antiga inimiga como parte do grupo apesar da desconfiança dos outros membros e eles partem para a próxima ilha. Bon-Clay infelizmente é capturado pela marinha, a princesa Vivi permanece no reino apesar de ser informalmente uma pirata do bando de Luffy.

Eu me desviei do foco umas 10 vezes nesse tópico porque One Piece é realmente vasto para resumir e criticar de uma vez só. Tanto que esse artigo vai ser atualizado mensalmente de duas em duas sagas. Mas para resumir as ideias principais sobre o enredo de Alabasta:

O começo da Grand Line ainda retém inúmeros elementos do cerne da narrativa de aventura do East Blue (a ilha dos gigantes é um excelente exemplo - eu pulei ela aqui na apresentação e não falei da baleia Laboon para tentar ir direto ao ponto). Contudo, esse elemento de aventura e conquista começa a dar espaço para outro aspecto muito interessante de One Piece: o conflito de interesses e poderes. 

Toda arte é política no que se refere à sua inserção dentro de um contexto sociopolítico e histórico. Ok, isso é chover no molhado. Mas One Piece é político na sua mensagem principal: liberdade versus autocracia. Luffy é um libertador. O sonho de ser o rei dos piratas se traduz em ser o homem mais livre do mundo, visto que a Marinha comanda os mares (parte fundamental desse universo) e navegar sem leis nem donos significa ser um pirata. Em Alabasta, temos o primeiro exemplo de como esse conflito se traduz: Crocodile é, em teoria, um criminoso com autorização do Governo Mundial para agir desde que capture alguns piratas e faça frente aos Yonkous (vamos chegar neles eventualmente). Crocodile é um meio que justifica um fim para essa política externa do Governo Mundial, não importa o que ele faz no macro e as vidas que afeta imediatamente, desde que ele fique fora do caminho dos Tenryubitos, a elite sacra e monárquica que comanda o planeta, ele pode oprimir e governar quantos países quiser. 

Mas Luffy age como libertador por princípio. Ele liberta seus companheiros: Zoro estava literalmente amarrado; Nami tinha uma vila feita de refém e era obrigada a servir Arlong; Usopp estava preso à sua vila e seus medos; Sanji vivia preso ao dever por ter prejudicado seu pai adotivo num flashback que não mencionei agora por não valer o espaço; Chopper estava preso ao seu remorso com o dr. Hiruluk e não vou explicar o motivo aqui para você ver e chorar como eu chorei. Luffy liberta pessoas e, a partir da saga de Alabasta, também libera reinos. Sim, o reino do Chopper foi libertado antes, mas não das garras do Governo Mundial (pelo menos não diretamente). 

Eu paro hoje, no dia 11 de Novembro, por aqui. Deixe seu comentário com as observações sobre os detalhes que pulei e suas discordâncias abaixo. Em breve eu retorno. 

Crítica da saga de Skypea

Pra maior parte das pessoas, One Piece começa em Alabasta. Pra mim, foi Skypea. 

Assim segue a história, depois de deixar para trás Alabasta, o bando do Chapéu de Palha passa a contar com uma recompensa maior: 100 milhões por Luffy, 60 milhões por Zoro e 79 milhões por Nico Robin.

Essa última mulher, inclusive, que trabalhava para Crocodile, une-se aos Chapéu de Palha depois de ser resgatada por Luffy da catacumba onde o protagonista lutava contra o Corsário. Por mais que o grupo se oponha inicialmente à decisão do capitão, acabam acatando à decisão dele. Dessa forma, o grupo segue viagem e, em determinado momento, ouvem falar da ilha no céu.

De alguma maneira, Luffy consegue convencer a tripulação a embarcar na busca pela ilha no céu, enquanto permanece na cidade de Jaya buscando mais informações. No meio do caminho, encontra um velho que busca o tesouro perdido de seu antepassado chamado de Nolan, o mentiroso. A tripulação dos Mugiwara fica amiga do sujeito pela fibra moral do mesmo ao buscar por um registro histórico de algo que limpe o nome da família após séculos de desonra. Um pirata, na cidade principal de Jaya, fica sabendo que o sujeito guardava algumas peças de ouro encontradas no fundo do mar e vai até lá roubá-las. Esse pirata, Bellamy, encontrou Luffy e Zoro horas antes no centro da cidade e, acreditando que a recompensa do Luffy era de apenas 30 milhões, desafia o pirata. Contudo, o capitão dos Chapéu de Palha prometeu à Nami, antes de descer do navio, que não iria causar problemas. Por conta disso, Luffy não enfrenta Bellamy na cidade - e esse último pirata começa a chamar o rapaz de covarde. 

Ainda dentro do bar, sendo provocado por Bellamy, Luffy esbarra outro sujeito, que nesse momento não possui nome na narrativa. Os dois discutem a existência da ilha no céu, mas a atenção de todos muda para Bellamy, conhecido pela alcunha de A Hiena, quando ele entra no bar.

Ao ir para a rua, Luffy e o sujeito sem nome falam outra vez sobre a ilha no céu - e nesse momento temos um dos momentos mais marcantes de One Piece, um dos acontecimentos-pilares que carregam os temas centrais da narrativa. 

Esse é um dos temas centrais de One Piece: a busca incansável por um ideal se justifica na jornada. Os personagens habitando esse mundo possuem grandes aspirações ou aspiração nenhuma, e é no choque dessas vontades que se constrói esse mundo gigantesco e tão épico - quanto maior o sonho, maior o choque. 

Passado o dia em Jaya, depois que Bellamy rouba o velho mergulhador atrás do tesouro de Noland, Luffy decide ir atrás das peças roubadas. 

E novamente, na mesma saga, temos um momento marcante. 


A questão desse soco no Bellamy não é só visualmente marcante (ainda que no mangá seja melhor), é que o soco se mostra um argumento moral. Bellamy é um pirata predador que foca em inimigos mais fracos para expor sua vontade. Seu ponto principal é uma pirataria brutal e sem grandes aspirações, mas Luffy almeja coisas muito maiores que ele, e cresce com esses desafios. Quando o capitão dos Chapéu de Palha evita o conflito com A Hiena, ele não faz isso por medo de enfrentar um inimigo - ele faz por pena. Luffy sabe que é mais forte que o adversário e se abstém de lutar até que seja necessário.

Nesse ponto, inclusive, ele demonstra um aspecto interessante da sua construção de personagem: ao ser questionado por Bellamy sobre porque o furto de um tesouro o incomodava se ele também era um pirata, Luffy responde que, como o mergulhador era seu amigo, iria roubar de volta os itens. A justificativa, então, não vem por um argumento moral. Ele não decide ir atrás das peças porque roubar é errado e isso é suficiente para se posicionar. Nesse ponto da história, Luffy age contra o outro pirata porque um amigo dele foi afetado, e isso é suficiente. 

Resumidamente, depois do soco, o sujeito não levanta mais. E após uma breve perseguição no mar pelo sujeito do sonho que não tem fim - descobrimos que ele é Barba Negra, um desertor dos piratas do Barba Branca, capitão de Ace, irmão de Luffy que aparece em Alabasta - chegamos no céu.

Essa saga é dividida em duas partes justamente por esse marco geográfico. Primeiro, chegamos em Jaya e somos apresentados a essa expansão do mundo dos piratas, são apresentados personagens relevantes em um ponto mais à frente da história. Em seguida, depois que os Chapéu de Palha investem no sonho - somos recompensados junto do grupo à ilha no céu - Skypea.

Vou tentar resumir o enredo básico de Skypea aqui. Fiquem avisados apenas que, como tudo em One Piece, resumir é se iludir. 

Ao chegar na ilha no céu, os Mugiwara conhecem alguns habitantes e começam a descobrir o funcionamento do local. Para começar, Skypea é regida por um deus chamado Enel, que de longe usa seu julgamento supremo para vaporizar e aterrorizar a população. A população de Skypea vive em uma guerra constante com os Shandians, um povo que habitava a antiga terra sagrada, a única ilha feita inteiramente de terra em Skypea. 

No geral, a ilha no céu é composta de duas partes: uma feita inteiramente de nuvens mais sólidas onde habitava a população de Skypea inicialmente, e a outra, a terra sagrada, um pedaço gigante de árvores e terra habitável de fato que surgiu um dia no céu. Quando a terra sagrada surge, os habitantes de Skypea tomam isso como um sinal divino e invadem o local, expulsando os Shandians da região. As duas populações passam a viver em estado constante de guerra pela terra santa, um tema extremamente interessante para um shonen infanto-juvenil como One Piece.

O fato é que os Mugiwaras se envolvem na confusão e parte do grupo acaba capturado e enviado para a terra sagrada servindo como sacrifício para o deus Enel enquanto outra parte vai em busca do tesouro e dos amigos raptados. Plot básico, descobrimos mais sobre as ilhas, descobrimos mais sobre os Shandians e por fim temos um vislumbre do plano de Enel: ele quer ir ao reino da terra infinita e abandonar os céus, mas antes disso irá destruir tudo. 

Enel surge em Skypea cinco anos antes do momento então presente na narrativa e derrota o antigo deus de Skypea, que é banido da região. Depois, assume o controle do local e passa a governar como uma figura mítica e distante de todos, surgindo apenas para entregar seu julgamento supremo e aterrorizar a população. 

Vou resumir mais um pouco do conflito: os shandians decidem entrar numa guerra total contra Enel para recuperar a terra santa. O deus de Skypea põe seu plano em prática e cria um jogo de sobrevivência na ilha selvagem vislumbrando que, dos 80 lutadores, apenas 5 estarão de pé ao final. Perdoem a palavra, mas o pau quebra em Skypea e muita gente cai. No geral, todos os Mugiwara são derrotados por Enel, que é um usuário Logia de Akuma no Mi. As frutas do diabo são divididas em três categorias, e o deus de Skypea tem a mais forte em termos absolutos, uma logia do Trovão. Enel é um Thor com esteroides que derruba qualquer um com raios fortíssimos. 

Exceto Luffy, o pirata de borracha que estica. 

Enel governa pela força e, apesar do seu sonho sem fim, tenta dobrar a vontade de terceiros à sua pela violência. Luffy cria laços e enfrenta apenas aqueles que se opõem ao seu sonho e seus amigos. Os dois são diametralmente opostos, e suas frutas do diabo representam isso. Enel é absoluto em seu poder e sua opressão, mas o sonho de Luffy é maior que qualquer coisa e ele está imune a esse controle pelo medo.

O pau quebra de novo. Corta para o flashback. 

A terra sagrada dos shandians nem sempre ficou no céu. Era uma ilha como qualquer outra, no mar do mundo de One Piece. Um dia, um explorador chega à ilha, conhecida por guerreiros brutais que a defendiam a qualquer custo, e salva a população de uma praga terrível. O explorador era Noland, séculos depois chamado de O Mentiroso. Noland chega à ilha e mata o deus serpente local para proteger uma jovem de um sacrifício, mas isso desperta a fúria da população local, já afetada pela praga, que acredita então estar sob maior suplício divino. Noland enfrenta Calgara, o grande herói da ilha, e no final convence a todos de que há uma cura possível para a praga. A população do explorador salva a população local e forma um laço de amizade. Conforme as semanas passam, Noland e Calgara tornam-se amigos e formam um forte laço. O habitante local passa a tocar o sino de ouro da cidade dos Shandians para celebrar essa amizade, mas um dia o sino para de tocar.

Nesse momento, seria importante destacar que um dos motivos para os Mugiwara estarem atrás da ilha no céu é a lenda de uma cidade dourada. A referência estética do Oda vem toda de populações mesoamericanas: é possível ver isso nas roupas, nas casas e na estética da cidade dourada e seu sino. Voltemos ao flashback, pois ele é importante.

Calgara descobre que Noland vinha cortando árvores sagradas para a população dos shandians sem avisar ninguém. Contudo, mesmo enfurecido, honra o até então amigo e evita um conflito direto com os exploradores. A filha de Calgara, a jovem prestes a ser sacrificada no começo desse enorme parêntese para explicar um fato (One Piece é vasto, assim será essa crítica), pergunta ao médico do navio de Noland o motivo para terem cortados as árvores, e explica a revolta da população da ilha ao homem. O médico conta que as árvores estavam doentes e eram o motivo da praga na ilha. Essas árvores sagradas representavam os mortos e antepassados dos shandians, mas continham um fungo nocivo a humanos. Noland parte com os marinheiros, acreditando ter perdido um grande amigo. Como um último recado, depois de descobrir a verdade, Calgara toca o sino dourado uma última vez para que o explorador parta sabendo que ainda é bem-vindo na terra dos shandians. 

A ilha, depois, é jogada ao céu por um enorme pilar de água que não vale explicar aqui. Eu não vou dar detalhes de todo o enredo de todos os capítulos. Vamos à crítica em si.

Em termos de design, essa é com certeza uma das sagas mais inspiradas de Oda. Toda a criatividade em Skypea, na ilha dourada e no navio voador de Enel (cujo plano supremo era ir à lua) se mostra nas páginas duplas e nas ambientação. Esse foi um dos motivos para Skypea me marcar tanto (e não Alabasta). Tudo parecia mágico e grandioso, místico e ao mesmo tempo real. 

Há um profundo sentimento de descoberta na jornada até a ilha no céu, um deslumbre completo por alcançar o suposto impossível. Skypea é também a primeira menção direta com nome, sobrenome e endereço ao Rei dos Piratas, Gol D. Roger. Ele foi o primeiro a chegar à ilha e ainda marcou o próprio nome no sino dourado perdido dos shandians. Skypea também tem um grande arco dramático e um enredo paralelo que praticamente não toca os Mugiwara. Toda a guerra entre shandians e Enel é como plano de fundo para aquela exploração, você realmente tem a sensação de que Luffy e a tripulação são estrangeiros em uma terra alienígenas a eles e completamente hostil.

O duelo com Enel é um dos grandes momentos de One Piece e mostra como, mesmo sem ser mais poderoso que seu adversário, Luffy é mais determinado e está disposto a cumprir com sua palavra apesar dos riscos. Ao soar o sino, ao final da luta contra o deus tirano da população de Skypea, Luffy faz ressoar o som da Harmonia que antes conectou Noland a Calgara. Depois de quase serem exterminados, os shandians e a população de Skypea passam a buscar uma forma de conciliação. É uma conclusão incrível e uma história que poderia existir por conta própria sem problema algum.

One Piece, no geral, tem esse grande benefício. Seus arcos enormes e sua construção de mundo vasta fazem de cada arco uma jornada em si. Quando os Chapéu de Palha partem de cada aventura é como ver um livro que se fecha e dá espaço a uma nova história. Contudo, isso também pode pesar negativamente. Muitos fãs da série pulam Skypea porque consideram uma saga sem conexão com o restante da narrativa, sendo que isso não é de longe verdade. Os impactos de Skypea perseveram em diversos aspectos, e a saga serve para apresentar e aprofundar melhor alguns personagens. Nico Robin, especialmente, ganha destaque como a exploradora e especialista do grupo - e Oda gasta bastante tempo mostrando como ela será importante para a tripulação posteriormente. É uma introdução longa para uma personagem assim (comparada às outras), mas se faz importante para a saga seguinte. 

Isso, contudo, fica para outro dia.

As mais charmosas deste blog

Cowboy Bebop - Análise, crítica e um pouco de melancolia

 Eu nunca tinha visto Cowboy Bebop até entrar no catálogo da Netflix. A história é um desses marcos culturais que todo mundo ouve falar vez ou outra nas rodas de conversa, mas que até ter esse acesse facilitado pelas megacorporações de entretenimento sem criatividade para criar propriedade intelectual nova, na necessidade de reaproveitar o que já funcionou uma vez e pode vender de novo, apenas os dedicados e capazes de piratear tinham acesso. A frase acima ficou enorme. Eu tenho esse problema com minhas introduções. Vamos ao que interessa. Cowboy Bebop é, em resumo, a história de Spike Spiegel, um cowboy - caçador de recompensas - que atua no nosso sistema solar atrás de criminosos e gente da pior espécie. Ao lado dele, o piloto e dono da nave Bebop, Jet, um ex-policial que atuava em Europa e que abandonou a corporação depois de alguns anos e eventos em seu passado.  Depois, junta-se à dupla a criminosa Faye Valentine, gatuna que roda o sistema solar atrás de dinheiro fácil, o cachorro

Conto - O espelhado

  - Eu estou te dizendo, é uma experiência incrível pelo que li no jornal - Amir insistia. - Esse cara é um ator que lê mentes, lê emoções, uma coisa assim. Andavam os dois pela avenida principal da cidade evitando os buracos na calçada e os pedestres. Era uma tarde quente de primavera, o verão se anunciava nesse dia. Carros cortavam rapidamente as faixas duplas de ambos os lados tentando passar pelos sinais antes que fechassem. - E por que eu iria numa coisa dessas? - Quis saber Samuel. - Porque é o tipo de coisa que transforma. Vamos nós dois. É aqui perto. A apresentação dura uns 30 minutos mais ou menos com cada pessoa. Tem uma fila pequena, mas vi que vendem umas coisas no caminho e a sala de espera tem outras coisas passando. - Tem uma sala de espera? Puta merda, Amir - Samuel desviou de uma senhora vagarosa e quase caiu. - Sala de espera é foda, a gente vai ficar lá até que horas? - Deixa de ser chato, a gente não tem nada mais pra fazer mesmo. Não encontramos hoje pra bater per